O vídeo mostra o início do filme "Línguas - Vidas em Português". É um filme muito bom para introduzir o curso de Variação.
Segue abaixo uma resenha crítica do filme:
O mundo que nos cerca está rodeado por uma enormidade
de culturas diferentes. O fator cultural, além de abordar diversas vertentes no
que diz respeito à comida, modo de vestir, tradição musical e muitos outros
aspectos, também traz consigo a língua. Ela é, em grande parte, responsável
pela identidade de um povo e pela união, mesmo que discreta, de falantes que a
utilizam, apesar das variações que podem adquirir. O filme “Línguas – vidas em
português” traz na sua essência essa união, demonstra diferentes vertentes que
uma só língua pode adquirir e expõe o que vem a ser mundo lusófono.
Partindo, primeiramente, de uma análise mais
estrutural do filme é possível notar que ele se baseia em depoimentos coletados
por diversos falantes da língua portuguesa proveniente de diversos locais.
Esses, por sua vez, são mesclados ao longo da obra, permitindo que o
espectador, mesmo que inconsciente, já faça uma comparação com os diferentes
“falares” da mesma língua. Além dessa prévia confrontação, é notório que a
mudança dos ambientes que estão os falantes também gera ao público a idéia de
que, conforme eles se alteram, o “jeito” de falar também muda.
Outra acepção importante diz respeito à caracterização
do mundo lusófono. Segundo muitos estudiosos, ele pauta-se pelo “conjunto de identidades culturais existentes em países,
regiões, estados ou cidades falantes da Língua Portuguesa como Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e
Príncipe, Timor-Leste e por diversas pessoas e comunidades em todo o
mundo”. Esse conceito torna-se
importante para demostrar que, embora sejam regiões afastadas geograficamente,
elas são unidas por um fator maior: a língua.
Definindo conceitos importantes e destacando
caracteristicas estruturais do filme, torna-se possível uma análise mais
conteudista. Citarei alguns exemplos – não todos, por se tratar de muitos – do
filme a fim de contextualizar melhor as afirmações e trazer um carater mais
real e paupável ao trabalho. Partindo de
um exemplo marcante – não só ao meu ver mas também de outros espectadores –
abordaremos o vendedor de balas. Ex líder de arrastão, Márcio vende bala no ônibus
e aproveita para pregar as crenças de sua Igreja (converteu-se a Igreja
Evangélica após largar a vida do crime). Com um traje pouco comum – roupa
social, camisa toda abotoada – ele utiliza palavras pouco “comuns”, observando-se
claramente a tentativa de se adequar ao vocábulário presente na Bíblia. Outro
personagem marcante no filme é o escritor Saramago. Ele aparece em diversas
cenas relatando a importância que a Língua Portuguesa possui, como pode ser
observado em “Se o leitor de livros, aquele que gosta de ler, nao se limitar
aquilo que faz agora... se ele andar para trás, se ele começar do princípio,
pode ler os grandes poetas... a língua passa a ser algo mais que um mero
intrumento de comunicaçao. Transforma-se numa mina inesgotável de beleza e de
valor...” e nos mostra isso em uma
línguagem “clara”, “pontual”, caracterizada como a utilizaçao da norma culta.
Por fim, porém nao menos importante, destaca-se o jovem que vive em um prédio
abandonado em Angola e possui na sua linguagem uma série de gírias. Por
influência da televisão e a vontade de virar rapper, seu jeito de falar e
cantar é marcado por expressões americanizadas e vocabulário próprio dessa
linha.
Esses exemplos são importantes de serem destacados e
caracterizados pois eles mostram a diversidade que a língua pode adquirir.
Apesar de todos falarem o mesmo idioma, ou seja, adotarem o mesmo sistema de
regra para se comunicar,cada qual a adequa de acordo com a classe social e meio
em que estão inseridos. Esse processo mostra a mobilidade que a língua tem e a
sua capacidade de se adaptar de acordo com cada “situação”. É diante desse
quadro que é possivel afirmar que a língua,assim como qualquer entidade viva,
está suscetivel a mudança e que esse processo é muito normal tendo em vista a
adaptabilidade do meio.
O fato de falarem a mesma língua e estarem distante
geograficamente nos exemplifica mais um aspecto abordado: mesmo “longe”, esses
indivíduos são unidos por um fator maior. É notório ver que a língua faz parte
da nossa identidade, que ela faz parte da nossa constituição como ser nacional.
Diante disso, não é estranho que nos identifiquemos com pessoas totalmente
“diferentes” mas que falam o mesmo idioma que nós. A língua traz uma identidade
e une povos que veem nela essa mesma identificaçao.
Com isso é possível perceber que distâncias geográficas
nem sempre são barreiras para a união de muitos povos. Há fatores muito mais
importantes, como nos mostra o filme, que são capazes de realizar essa façanha.
Diante disso destaca-se a extrema importância que uma língua tem não só diante
uma sociedade mas também frente a toda uma nação que a utiliza como meio de
comunicação. Por isso é necessário que a preserve e aceite-a de acordo com as
“pequenas” variações que podem adquirir de acordo com lugar, estrato social e
caracteristicas pessoais. Sua força é indiscutível: ela une diferentes povos em
um só.
Por Mariana Delesderrier da Silva
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